segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

20 de Dezembro - Banca de Qualificação do Projeto III






Competências dos Agentes Comunitário de Saúde no processo de desinstitucionalização da loucura

André Luis Leite
Simone Mainieri Paulon
Porto Alegre - 2010



Um pouco de história

2008  
Repercussões da Inclusão da Saúde Mental na Atenção Básica: um estudo comparativo em serviços de atenção básica do Rio Grande do Norte e o Rio Grande do Sul.
Magda Diniz Dimenstein/Rosane Neves
  • Olhares e Ações do Agente Comunitário de Saúde frente à Loucura

2010
Estratégias de cuidado em saúde mental na interface com a atenção básica: o trabalho dos agentes comunitários de saúde nas equipes de saúde da família.
Rosane Neves 
  • Competências dos Agentes Comunitário de Saúde no processo de desinstitucionalização da loucura 

Campo Problemático



Brasil,década de oitenta

Reforma sanitária e psiquiátrica enquanto movimentos  da sociedade civil

Institucionalização da Loucura
II Congresso Nacional dos Trabalhadores em Saúde Mental, Dezembro de 1987Bauru/SP.
Reconhecimento da Loucura enquanto Instituição e a decorrente necessidade de desinstitucionalizá-la marca a especificidade do movimento
o conjunto de aparatos científicos, legislativos, administrativos, de códigos de referência cultural e de relações de poder estruturadas em torno de um objeto preciso: a doença[mental], a qual se sobrepõe no manicômio o objeto periculosidade (ROTELLI, F.; LEONARDIS O. DE; MAURI, D, 2001, p. 90)
Reforma Psiquiátrica:
  • Redução do número de leitos para internação em hospital psiquiátrico
  • Abertura de Centros de Atenção Psicossocial
Reforma Sanitária
  • Consolidação do SUS
  • Programa de Saúde da Família/Estratégia de Saúde da Família

    • O Agente Comunitário de Saúde 
      • Personagem Híbrido e Polifônico
      • Inovação no campo da saúde
      • Habitação de um lugar paradoxal



Brasil, Contexto Atual

Reforma Sanitária
  • Necessidade de qualificar a assistência prestada em todos os níveis do Sistema
  • Política Nacional de Humanização da Atenção e da Gestão do SUS - PNH

Reforma Psiquiátrica
  • Novas ordens de cronicidade//Atenção predominantemente ambulatorial 
  • Carência de atenção à crise
  • Necessidade de trabalhos na perspectiva territorial/Aproximação da  atenção básica  - NASF

    • O Agente Comunitário de Saúde 
      • Elo entre equipes de saúde e a população de um território
      • Desenvolvimento de vínculos como especificidade de trabalho
      • Demanda constante de capacitação da e para a categoria


2005  Os cursos técnicos de formação de agentes comunitários de saúde
    • Trabalhar na perspectiva de desenvolvimento de competências;
capacidade de enfrentar situações e acontecimentos próprios de um campo profissional, com iniciativa e responsabilidade, segundo uma inteligência prática sobre o que está ocorrendo e com capacidade para coordenar-se com outros atores na mobilização de suas capacidades (BRASIL, 2004p. 47).


Competências: martelando o conceito

Diretrizes Curriculares do Curso dos Agentes Comunitários de Saúde

Saber-fazer
Saber-conhecer
Saber-ser


Análise do uso dos conceito 

Contexto da Administração: Mercados incertos e impossibilidade de prescrição completa das ações de trabalho




Que competências podem auxiliar os Agentes Comunitários de Saúde na construção de práticas para desinstitucionalização da loucura? 
  • Mapear as principais dificuldades encontradas pelos profissionais da atenção primária para prestar atendimento aos usuários de saúde mental 
  • Identificar as concepções de cuidado que pautam a atuação dos profissionais associando-as ao ideário da Reforma Psiquiátrica e da Reforma Sanitária brasileiras
  •  Problematizar a forma como determinados arranjos de trabalho favorecem, ou não, uma atuação na perspectiva psicossocial
  •  Apontar diretrizes metodológicas que subsidiem políticas públicas de educação em saúde

Estratégia Metodológica

Pesquisa-Intervenção

  • Análise Institucional Francesa
    • Tensão Instituinte-Instituído
  • Inspiração Cartográfica
    • Acompanhamento de processos 
Procedimentos Metodológicos


Análise Parcial dos Resultados: 
Categorias Oriundas dos Grupos Focais


Demandas de saúde mental que aparecem no cotidiano do trabalho dos ACS
  1. Uso de crack e de outras drogas
  2. Alcoolismo
  3. Violência domestica associada ao uso de álcool e drogas
  4. Depressão, depressão pós-parto
  5. Tentativa de suicídio, Suicídio
  6. Surto psicótico
  7. Uso de exagerado de medicação
  8. Idosos que moram sozinhos e que estão abandonados
  9. Gravidez na adolescência
  10. Pacientes com queixas múltiplas
Principais estratégias utilizadas para lidar com a demanda
  1. Encaminhamento para a equipe
  2. Agendamento de consulta
  3. Encaminhamento para serviço especializado
  4. Articulação com a equipe para receber os casos
  5. Acolhimento da pessoa em sofrimento
  6. Aumento no número de visitas por mês quando o caso é mais complicado
  7. Formação de duplas com outros agentes para a visita aos casos mais difíceis
  8. Explicação sobre o funcionamento dos serviços de saúde
  9. Cuidado mútuo entre os agentes; agente cuida de agente
  10. Discussão dos casos entre si (ACS)
Principais ações da equipe diante das demandas em Saúde Mental
  1. Discussão de casos com a equipe
  2. Ligações para a brigada militar quando necessário pois o SAMU não atende
  3. Encaminhamento para serviço especializado
  4. Realização de grupos na unidade
  5. Montagem de uma agenda específica para os casos de saúde mental
 Critérios de Encaminhamento das demandas em saúde mental
  1. Dificuldades em responder a isso
  2. Tendência a encaminhar tudo e queixas sobre as falhas da rede
  3. Dificuldade em perceber as ações que já desenvolvem
Conhecimentos/habilidades que são necessárias ter para realizar um acolhimento em saúde mental
  1. Dificuldade em dizer com mais precisão qual seria o assunto no qual precisariam de capacitação
  2. Saber mais sobre diagnóstico
  3. Abordagem em casos de uso de drogas
  4. Identificação de casos e manejo em saúde mental
  5. A redução de dano como uma ferramenta de trabalho

Questões decorrentes de residir e trabalhar no mesmo lugar
  1. Ser reconhecido pela comunidade, sendo requisitado para diversos eventos
  2. A comunidade desenvolve uma relação de confiança com os agentes
  3. Cobrança de visita por parte dos usuários
  4. Dificuldades em estabelecer limites
  5. Não poder se mudar de casa mesmo que haja condições melhores
  6. Ser solicitado a qualquer hora, trabalhador em tempo integral
  7. Inimizades criadas por não se dispor a ‘fofocar’ sobre os outros usuários
  8. A dificuldade de lidar com os limites da atuação
Questões éticas
  1. O que cabe ao agente?
  2. O que levar para a equipe? O que é necessário? O que é demais?
  3. O paciente disse que não era para contar, e agora?
  4. Como saber o que é importante contar e o que não é?
  5. Como abordar um usuário cujos problemas você não soube por ele?
  6. Segredo é diferente de sigilo?
  7. O prontuário, ter acesso a ele ou não?
Saúde do Trabalhador
  1. Necessidade de mais suporte para executar o trabalho
  2. Trabalho no território gera sofrimento
  3. A dificuldade de lidar com os limites da atuação
  4. Problemas de trabalho dentro das equipes
  5. Insegurança em relação ao vínculo de trabalho
  6. Reconhecimento das chefias é mediado pela produtividade (número de visitas realizada)
  7. Sentimento de vazio e impotência
O ACS como agente social
  1. Disseminação de informações sobre documentos e busca de empregos
  2. Atuação como líder comunitário


Partindo das experiências concretas destes profissionais, de seu saber-fazer fruto do cotidiano, como chegar às competências que aumentem a potência de ação dos ACS? 


  • As capacitações do tipo pacotinhos prontos (sic) 
  • Dificuldade em perceber as ações que já desenvolvem
Desenvolvimento de competências de Agentes Comunitários de Saúde: possíveis contribuições metodológicas
  • Formação-intervenção, um mote para o ensino em saúde
  • Promoção de encontros de trocas e de circulação das falas 



Unidades de Produção como estratégia didática

São coletivos tomados como dispositivo capaz de disparar a compreensão sobre
“modos de fazer” atenção e gestão em grupo, bem como sobre a articulação da
produção de saúde em rede, desenvolvendo processos de cogestão e fomentando
grupalidade. O termo “produção” é utilizado nesta perspectiva de formação-intervenção para demarcar diferenças em relação às tradicionais denominações de
grupos ou equipes, já que se quer reforçar a idéia de que entre os produtos desses
coletivos incluem-se a produção de saúde e dos próprios sujeitos que vão se
transformando neste processo (PAVAN, GONÇALVES,MATIAS,PAULON,
2010, p.88).

Planos de Intervenção como instrumento de avaliação e acompanhamento

“Os planos de intervenção são estratégias concretas de viabilização de movimentos e ações que apontam metas, mas sempre como expressão das políticas, dos compromissos e das prioridades coletivamente definidas e compartilhadas (PAVAN, GONÇALVES,MATIAS,PAULON, 2010, p. 90)

Análise Parcial dos Resultados: a competência de construir vínculos



Saber-ser, mas o quê?
  • Dos perigos do não dito
Vínculo: o paradoxo do território
  • Vincular-se como condição para o trabalho territorial e como fator adoecedor do trabalho
Para se vincular: saber-fazer o quê? Saber-conhecer o que? Saber-ser que?
  • O que nos ensinam aqueles que não sabem

Considerações finais

sábado, 18 de dezembro de 2010

Nietzsche é um bom companheiro - aula III

Durante o semestre, acabei me tornando muito mais íntimo do Nietzsche. Zaratustra e seu cajado me guiaram por entre o mundo da experiência trágica e, com isso, possibilitaram o o retorno da minha relação com a psicanálise. Neste meio tempo, ainda, conheci a Rachel - filha do giacoia. Ontem, repassei a aula sobre o nietzsche para  isaac. Hoje, tava lendo a Hermeneutica do Sujeito do Foucault e, mesmo sabendo que este tipo de leitura fica muito melhor em tempos de férias, retomarei este material.


Se vocês lerem o prefácio de Para a Genealogia da Moral, ele vai dizer o seguinte:
"Os meus escritos são compostos de tal maneira que interpretá-los exige uma faculdade muito especial, que os homens modernos não têm, uma faculdade de ruminação; para entender os meus escritos precisa ser de alguma forma vaca, isto é, precisa ter capacidade de ruminar e perder tempo com eles"
Professor: Há uma frase de um texto tardio de Nietzsche que diz o seguinte: "Eu não sei o que significa uma verdade objetiva, todas as verdades são para mim verdades sangrentas". No fundo, para usar outra imagem do mesmo período, se você não escreve com seu próprio sangue, a sua relação com aquilo que você escreve, pensa, e eventualmente divulga, é uma relação simplesmente exterior e artificial. E não é exatamente esse o tipo de leitor ideal para Nietzsche, pois, para ele, o leitor ideal é aquele que, não necessariamente concorda com aquilo que lê em um autor, mas que realmente assimila, do ponto de vista das suas vivências mais profundas, aquilo que lê. Ou seja, aquele para quem o problema da verdade, o problema da autenticidade numa teoria, não é simplesmente um problema lógico.


Aqui se conclui segundo o hábito gramatical: "pensar é uma atividade, toda a atividade requer um agente, logo -".
Analisando esta frase nós temos, aqui principalmente, uma caracterização por Nietzsche do processo que se encontra em curso quando nós fornecemos uma interpretação expressa por uma proposição do tipo "eu penso", ou seja, o estado mental que eu descrevo chama-se pensamento. Ora, pensamento é uma atividade, ora toda atividade pertence a um autor, logo a esta atividade pensar pertence necessariamente o sujeito do pensamento que sou eu. Agora, quem é que garante que sou eu que pensa? Por que necessariamente pensar tem que ser uma atividade para a qual é necessário um autor? Por que o pensamento tem que ser pensado como efeito de um sujeito? Nada disso Descartes explica na sua famosa "certeza imediata", tudo isso é encoberto exatamente pela imediatez e certeza de si do cogito mas, no entanto, diz Nietzsche, isso tudo é uma interpretação. E o que ele está fazendo aqui é mostrar os passos dessa interpretação. Ora, essa frase: "pensar é uma atividade, a toda atividade pertence um agente", qual é a categoria que está operando aqui? Que relação existe entre o agente e a atividade? Relação de causa e efeito, percebem? Quer dizer, todo processo é conduzido por um raciocínio de tipo causa e efeito, que os lógicos chamam de inferência causal, por isso que ele termina a frase antes do traço de separação com: logo. Ele quer chamar a atenção para a partícula, para o conectivo lógico, para o sinal de inferência. Com isso ele quer mostrar que se trata de um raciocínio e não de uma intuição. Trata-se conseqüentemente de uma dedução e não de uma presença imediata, dada. Portanto, por conseguinte, ou seja, por conseqüência...
Pergunta: É uma seção gramatical, é isso? Agora, eu gosto muito dessa idéia de concepção gramatical. Mas, é possível escapar disso?
Professor: Essa é uma grande pergunta.
Comentário: Eu estava ansiosa para chegar nisso...
Professor: Tais categorias são os modos como o pensamento se estrutura. A pretensão deste curso é explorar e clarificar, tanto quanto possível, isso e, sobretudo, as aporias que isso encerra. Isto que nós estamos vendo aqui agora é exatamente aquilo que a Amnéris leu no livro de Christoph Türcke. É isso que Christoph Türcke chama escândalo da razão. Ou seja, é esta operação de reflexão sobre os limites do pensamento e da linguagem. Apenas para adiantar um pouco, o que nós estamos vendo aqui é a construção daquilo que nós chamamos de mundo, ou seja, a construção dos objetos do pensamento. Ora, vai começar a ficar claro, a partir daqui, que o mundo do qual nós falamos, nós não temos absolutamente nenhuma garantia de que aquilo que nós chamamos de real tenha outra estrutura que não aquela que é determinada pela raiz lógico gramatical da nossa linguagem. Então, o que é o mundo objetivo, o que seria o real fora do pensamento é absolutamente inacessível, o real de que nós falamos é o real que nós construímos e nós o construímos a partir da estrutura fundamentalmente gramatical da nossa linguagem.

Ora, se para Descartes o "eu penso" só poderia subsistir porque justamente ele não era um raciocínio, mas uma certeza imediata, uma intuição do pensamento; e se nós descobrirmos que ele não é intuição, mas sim o efeito de um raciocínio, então a certeza do cogito está desqualificada. 
Professor: Exatamente. Logo, o que está em discussão aqui? Que este "eu" não é a alma, ou seja, que este "eu" não garante nenhum princípio de unidade espiritual, que esse "eu" é, repito, uma função da gramática.


Se você não traduzir nas formas da gramática, literalmente você não pensa, isto é, o pensar consciente é um pensar necessariamente lógico-gramatical.


Platão, fazer uma distinção entre essência e aparência, isso é ilegítimo, isso não tem nenhum sentido. Eu jamais poderia estabelecer esta diferença porque eu só posso pensar em termos da estrutura lógico-gramatical. Então, "coisa em si mesmo" e "fenômeno", essência e aparência, verdade e aparência, etc, tudo isto é uma diferenciação ilegítima, é uma imensa confusão, porque eu não posso jamais falar com sentido, ou pensar em poder estabelecer uma distinção entre aquilo que é a essência objetiva e aquilo que é aparência. Por quê? Porque todo o pensar é aparência. Todo pensar já se constrói a partir das formas e dos princípios da lógica e da gramática, então a própria distinção onde se funda o idealismo de Platão a Kant é uma falsa distinção, não existe possibilidade de se ultrapassar o nível da aparência.


Conhecimento como precisamente o contrário do desejo, do interesse, da inclinação, do apetite, da paixão, o conhecimento como objetividade, ou como busca da objetividade, como, portanto neutralização de todas as parcialidades, de toda parcialidade do interesse na imparcialidade do objetivo. Ora, o que Nietzsche está dizendo aqui é que o pensar justamente não é um meio para conhecer neste sentido, que não existe conhecimento neste sentido, que o pensar é a maneira que nós temos de ordenar o real, designar aquilo que acontece, tornar o real calculável, manipulável, previsível; ou seja, o pensamento é a maneira por meio da qual nós podemos introduzir nos acontecimentos ou naquilo que vem a ser, naquilo que se passa, nós introduzimos ordem, previsibilidade e, por conseguinte, possibilidade de manipulação. Então, o fim último do pensamento e do conhecimento não é a cognição da estrutura objetiva da realidade e sim tornar a realidade, para nós, manipulável, compreensível e previsível. Quer dizer, há uma certa função utilitária do pensamento e do conhecimento. 


E o que Nietzsche está querendo dizer aqui é que no fundo essa pretensão do sujeito cartesiano, esta pretensão do sujeito metafísico, é demasiadamente onerosa... Nós pretendemos obter para nós, por força da concepção tradicional do sujeito, algo assim como um estatuto substancial e essa substancialidade daquilo que nós somos seria dada precisamente pela consciência de si. E o que Nietzsche está querendo mostrar aqui é que a consciência de si é só fachada, é só arco-íris. Quer dizer, pretender tomar o arco-íris por alguma coisa efetivamente existente, que você pudesse tocar, segurar, fixar na unidade de uma substância. Mas ele não é senão efeito visual.
É o que Nietzsche está tomando aqui metaforicamente, usando a imagem do arco-íris, para mostrar exatamente o que somos nós quando nos pensamos substancialmente como consciência de si. Ou seja, permanecemos no nível dos puros efeitos imagéticos visuais sem tocar nenhum teor efetivo, nada que seja substantivo, substancial, embora tendo a ilusão de ser.
 


Então, a eficácia experimental das teorias científicas não garante a sua verdade ontológica, garante pura e simplesmente a sua qualidade de ordenação e possibilidade de manipulação do conjunto de eventos, nada mais. Então, não é porque a ciência dá certo que ela seja o contrário da aparência; ela é simplesmente uma aparência como as outras.


"Naquele célebre cogito se encontra: - (e ele está enumerando então a multiplicidade presente no cogito) - 1) pensa-se, 2) eu creio que sou eu que pensa, 3) mesmo admitindo que o segundo ponto permanecesse implicado, - (isto é, mesmo admitindo que sou eu que pensa) - como artigo de fé, ainda assim o primeiro ‘pensa-se’ contém ainda uma crença: a saber, que ‘pensar’ seja uma atividade para a qual um sujeito, no mínimo um ‘isto’ deva ser pensado - além disso, o ergo sum nada significa!"




ps: entendo pq levo tanto tempo em ir de uma aula a outra.   

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

17 de Dezembro - Banca de Qualificação do Projeto II






Competências dos Agentes Comunitário de Saúde no processo de desinstitucionalização da loucura

André Luis Leite
Simone Mainieri Paulon
Porto Alegre - 2010



Um pouco de história

2008  
Repercussões da Inclusão da Saúde Mental na Atenção Básica: um estudo comparativo em serviços de atenção básica do Rio Grande do Norte e o Rio Grande do Sul.
Magda Diniz Dimenstein/Rosane Neves
  • Olhares e Ações do Agente Comunitário de Saúde frente à Loucura

2010
Estratégias de cuidado em saúde mental na interface com a atenção básica: o trabalho dos agentes comunitários de saúde nas equipes de saúde da família.
Rosane Neves 
  • Competências dos Agentes Comunitário de Saúde no processo de desinstitucionalização da loucura 

Campo Problemático



Brasil,década de oitenta

Reforma sanitária e psiquiátrica enquanto movimentos  da sociedade civil

Institucionalização da Loucura
II Congresso Nacional dos Trabalhadores em Saúde Mental, Dezembro de 1987Bauru/SP.
Reconhecimento da Loucura enquanto Instituição e a decorrente necessidade de desinstitucionalizá-la marca a especificidade do movimento Reforma Psiquiátrica:
o conjunto de aparatos científicos, legislativos, administrativos, de códigos de referência cultural e de relações de poder estruturadas em torno de um objeto preciso: a doença[mental], a qual se sobrepõe no manicômio o objeto periculosidade (ROTELLI, F.; LEONARDIS O. DE; MAURI, D, 2001, p. 90)
  • Paradigma de Atenção Psicossocial
  • Redução do número de leitos para internação Psiquiátrica
  • Abertura de Centros de Atenção Psicossocial
  • Vínculo como pre condição para o trabalho 
Reforma Sanitária
  • Consolidação do SUS
  • Atenção Básica em Saúde
  • Programa de Agentes Comunitários de Saúde
  • Programa de Saúde da Família
  • Estratégia de Saúde da Família
  • Cuidado Territorial

    • O Agente Comunitário de Saúde 
      • Personagem Híbrido e Polifônico
      • Inovação no campo da saúde
      • Habitação de um lugar paradoxal



Brasil, Contexto Atual

Reforma Sanitária
  • Qualificação da Atenção Básica - porta de entrada privilegiada do Sistema
  • Reconhecimento da complexidadade das ações terrritoriais
  • Desnvolvimento de  vínculo como condição para desenvolvimento de ações
  • Necessidade de qualificar a assistência prestada em todos os níveis do Sistema
  • Política Nacional de Humanização da Atenção e da Gestão do SUS - PNH

Reforma Psiquiátrica
  • Novas ordens de cronicidade
  • Atenção predominantemente ambulatorial 
  • Carência de atenção à crise
  • Necessidade de trabalhos na perspectiva territorial
  • Aproximação da  atenção básica  - NASF

    • O Agente Comunitário de Saúde 
      • Elo entre equipes de saúde e a população de um território
      • Desenvolvimento de vínculos como especificidade de trabalho
      • Demanda constante de capacitação da e para a categoria


2005  Os cursos técnicos de formação de agentes comunitários de saúde
    • Trabalhar na perspectiva de desenvolvimento de competências;
capacidade de enfrentar situações e acontecimentos próprios de um campo profissional, com iniciativa e responsabilidade, segundo uma inteligência prática sobre o que está ocorrendo e com capacidade para coordenar-se com outros atores na mobilização de suas capacidades (BRASIL, 2004p. 47).


Competências: martelando o conceito

Diretrizes Curriculares do Curso dos Agentes Comunitários de Saúde

Saber-fazer
Saber-conhecer
Saber-ser


Análise do uso dos conceitos 

Contexto da Administração: Mercados incertos e impossibilidade de prescrição completa das ações de trabalho - Trabalhador Polivalente

Saber agir
Saber mobilizar recursos
Saber comunicar.
Saber aprender
Saber engajar-se e comprometer-se
Saber assumir responsabilidades
Ter visão estratégica
FLEURY & FLEURY, 2008


Que competências podem auxiliar os Agentes Comunitários de Saúde na construção de práticas para desinstitucionalização da loucura? 
  • Mapear as principais dificuldades encontradas pelos profissionais da atenção primária para prestar atendimento aos usuários de saúde mental 
  • Identificar as concepções de cuidado que pautam a atuação dos profissionais associando-as ao ideário da Reforma Psiquiátrica e da Reforma Sanitária brasileiras
  •  Problematizar a forma como determinados arranjos de trabalho favorecem, ou não, uma atuação na perspectiva psicossocial
  •  Apontar diretrizes metodológicas que subsidiem políticas públicas de educação em saúde

Estratégia Metodológica

Pesquisa-Intervenção

  • Análise Institucional Francesa
    • Tensão Instituinte-Instituído
  • Inspiração Cartográfica
    • Acompanhamento de processos 
Procedimentos Metodológicos


Análise Parcial dos Resultados: o que sabem os que não sabem?


Demandas de saúde mental que aparecem no cotidiano do trabalho dos ACS
  1. Uso de crack e de outras drogas
  2. Alcoolismo
  3. Violência domestica associada ao uso de álcool e drogas
  4. Depressão, depressão pós-parto
  5. Tentativa de suicídio, Suicídio
  6. Surto psicótico
  7. Uso de exagerado de medicação
  8. Idosos que moram sozinhos e que estão abandonados
  9. Gravidez na adolescência
  10. Pacientes com queixas múltiplas
Principais estratégias utilizadas para lidar com a demanda
  1. Encaminhamento para a equipe
  2. Agendamento de consulta
  3. Encaminhamento para serviço especializado
  4. Articulação com a equipe para receber os casos
  5. Acolhimento da pessoa em sofrimento
  6. Aumento no número de visitas por mês quando o caso é mais complicado
  7. Formação de duplas com outros agentes para a visita aos casos mais difíceis
  8. Explicação sobre o funcionamento dos serviços de saúde
  9. Cuidado mútuo entre os agentes; agente cuida de agente
  10. Discussão dos casos entre si (ACS)
Principais ações da equipe diante das demandas em Saúde Mental
  1. Discussão de casos com a equipe
  2. Ligações para a brigada militar quando necessário pois o SAMU não atende
  3. Encaminhamento para serviço especializado
  4. Realização de grupos na unidade
  5. Montagem de uma agenda específica para os casos de saúde mental
 Critérios de Encaminhamento das demandas em saúde mental
  1. Dificuldades em responder a isso
  2. Tendência a encaminhar tudo e queixas sobre as falhas da rede
  3. Dificuldade em perceber as ações que já desenvolvem
Conhecimentos/habilidades que são necessárias ter para realizar um acolhimento em saúde mental
  1. Dificuldade em dizer com mais precisão qual seria o assunto no qual precisariam de capacitação
  2. Saber mais sobre diagnóstico
  3. Abordagem em casos de uso de drogas
  4. Identificação de casos e manejo em saúde mental
  5. A redução de dano como uma ferramenta de trabalho

Questões decorrentes de residir e trabalhar no mesmo lugar
  1. Ser reconhecido pela comunidade, sendo requisitado para diversos eventos
  2. A comunidade desenvolve uma relação de confiança com os agentes
  3. Cobrança de visita por parte dos usuários
  4. Dificuldades em estabelecer limites
  5. Não poder se mudar de casa mesmo que haja condições melhores
  6. Ser solicitado a qualquer hora, trabalhador em tempo integral
  7. Inimizades criadas por não se dispor a ‘fofocar’ sobre os outros usuários
  8. A dificuldade de lidar com os limites da atuação
Questões éticas
  1. O que cabe ao agente?
  2. O que levar para a equipe? O que é necessário? O que é demais?
  3. O paciente disse que não era para contar, e agora?
  4. Como saber o que é importante contar e o que não é?
  5. Como abordar um usuário cujos problemas você não soube por ele?
  6. Segredo é diferente de sigilo?
  7. O prontuário, ter acesso a ele ou não?
Saúde do Trabalhador
  1. Necessidade de mais suporte para executar o trabalho
  2. Trabalho no território gera sofrimento
  3. A dificuldade de lidar com os limites da atuação
  4. Problemas de trabalho dentro das equipes
  5. Insegurança em relação ao vínculo de trabalho
  6. Reconhecimento das chefias é mediado pela produtividade (número de visitas realizada)
  7. Sentimento de vazio e impotência
O ACS como agente social
  1. Disseminação de informações sobre documentos e busca de empregos
  2. Atuação como líder comunitário
Partindo das experiências concretas destes profissionais, de seu saber-fazer fruto do cotidiano, como chegar às competências que aumentem a potência de ação dos ACS? 


  • As capacitações do tipo pacotinhos prontos (sic) 
  • Dificuldade em perceber as ações que já desenvolvem

Desenvolvimento de competências de Agentes Comunitários de Saúde: possíveis contribuições metodológicas
  • Formação-intervenção, um mote para o ensino em saúde
  • Promoção de encontros de trocas e de circulação das falas 

Unidades de Produção como estratégia didática

São coletivos tomados como dispositivo capaz de disparar a compreensão sobre
“modos de fazer” atenção e gestão em grupo, bem como sobre a articulação da
produção de saúde em rede, desenvolvendo processos de cogestão e fomentando
grupalidade. O termo “produção” é utilizado nesta perspectiva de formação-intervenção
para demarcar diferenças em relação às tradicionais denominações de
grupos ou equipes, já que se quer reforçar a idéia de que entre os produtos desses
coletivos incluem-se a produção de saúde e dos próprios sujeitos que vão se
transformando neste processo (PAVAN, GONÇALVES,MATIAS,PAULON,
2010, p.88).

Planos de Intervenção como instrumento de avaliação e acompanhamento

“Os planos de intervenção são estratégias concretas de viabilização de movimentos e ações que apontam metas, mas sempre como expressão das políticas, dos compromissos e das prioridades coletivamente definidas e compartilhadas (PAVAN, GONÇALVES,MATIAS,PAULON, 2010, p. 90)

Análise Parcial dos Resultados: a competência de construir vínculos



Saber-ser, mas o quê?
  • Dos perigos do não dito
Vínculo: o paradoxo do território
  • Vincular-se como condição para o trabalho territorial e como fator adoecedor do trabalho
Para se vincular: saber-fazer o quê? Saber-conhecer o que? Saber-ser que?
  • O que nos ensinam aqueles que não sabem

Considerações finais

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

14 de Dezembro - Banca de Qualificação do Projeto






Competências dos Agentes Comunitário de Saúde no processo de desinstitucionalização da loucura

André Luis Leite
Simone Mainieri Paulon
Porto Alegre - 2010



Um pouco de história

2008 - Repercussões da Inclusão da Saúde Mental na Atenção Básica: um estudo comparativo em serviços de atenção básica do Rio Grande do Norte e o Rio Grande do Sul.
Magda Diniz Dimenstein/Rosane Neves
  • Olhares e Ações do Agente Comunitário de Saúde frente á Loucura.

2010 - Estratégias de cuidado em saúde mental na interface com a atenção básica: o trabalho dos agentes comunitários de saúde nas equipes de saúde da família.
Rosane Neves 
  • Competências dos Agentes Comunitário de Saúde no processo de desinstitucionalização da loucura



    Campo Problemático



    Reforma sanitária e psiquiátrica enquanto movimentos sociais da sociedade civil Scherer-Warren (2006)
    • Definição de Adversário comum – o regime governamental antidemocrático ao qual o país estava exposto  
    • Defesa de um mesmo projeto utópico - redemocratização nacional e criação de uma Política de Saúde universalista, democrática, resolutiva e descentralizada
    • Agrupamento em torno de temáticas mais abrangentes . 

    Institucionalização da Loucura
    II Congresso Nacional dos Trabalhadores em Saúde Mental,
    Dezembro de 1987
    Bauru/SP. - Reconhecimento da Loucura enquanto Instituição e a decorrente necessidade de desinstitucionalizá-la marca a cisão.

    o conjunto de aparatos científicos, legislativos, administrativos, decódigos de referência cultural e de relações de poder estruturadas em torno de um objeto preciso: a doença, a qual se sobrepõe no manicômio o objeto periculosidade (ROTELLI, F.; LEONARDIS O. DE; MAURI, D, 2001, p. 90)


    Reforma Psiquiátrica
    • Paradigma de Atenção Psicossocial
    • Redução do número de leitos para internação Psiquiátrica
    • Abertura de Centros de Atenção Psicossocial
    • Perspectiva de cuidado em rede
    • Vínculo como pre condição para o trabalho


     Reforma Sanitária
    • Consolidação do SUS
    • Atenção Básica em Saúde
    • Programa de Agentes Comunitários de Saúde
    • Programa de Saúde da Família
    • Estratégia de Saúde da Família
    • Cuidado Territórial

      • O Agente Comunitário de Saúde 
        • Personagem Hibrido e Polifônico
        • Inovação no campo da saúde
        • Habitação de um lugar paradoxal

    Contexto Atual

    Reforma Sanitária
    • Qualificação da Atenção Básica - porta de entrada privilegiada do Sistema;
    • Reconhecimento da complexiadade das ações terrritóriais;
    • Desnvolvimento de  vínculo como condição para desenvolvimento de ações;
    • Necessidade de qualificar a assistência prestada em todos os níveis do Sistema;
    • Política Nacional de Humanização da Atenção e da Gestão do SUS - PNH;

    Reforma Psiquiátrica
    • Novas ordens de cronicidade
    • Atenção predominantemente ambulatorial
    • Necessidade de trabalhos na perspectiva territorial
    • Urgência em aproxima-se da a atenção básica  

      • O Agente Comunitário de Saúde 
        • Elo entre equipes de saúde e a populção de um território
        • Desenvolvimento de vínculos como especificidade de trabalho
        • Demanda constante de capacitação da e para a categoria


    2005  Os cursos técnicos de formação de agentes comunitários de saúde
      • Trabalhar na perspectiva de desenvolvimento de competências;
    capacidade de enfrentar situações e acontecimentos próprios de um campo profissional, com iniciativa e responsabilidade, segundo uma inteligência prática sobre o que está ocorrendo e com capacidade para coordenar-se com outros atores na mobilização de suas capacidades (BRASIL, 2004p. 47).


    Competências: martelando o conceito

    Diretrizes Curriculares do Curso dos Agentes Comunitários de Saúde

    Saber-fazer
    Saber-conhecer
    Saber-ser



    Análise do uso dos conceitos 

    Contexto da Administração: Mercados incertos e impossibilidade de prescrição completa das ações de trabalho

    Saber agir
    Saber mobilizar recursos
    Saber comunicar.
    Saber aprender
    Saber engajar-se e comprometer-se
    Saber assumir responsabilidades
    Ter visão estratégica



    Que competências podem auxiliar a construção de práticas orientadas no sentido preconizado pela desinstitucionalização da loucura a serem efetivada pelos Agentes Comunitários de Saúde?
    • Mapear as principais dificuldades encontradas pelos profissionais da atenção primária para prestar atendimento aos usuários de saúde mental; 
    • Identificar as concepções de cuidado que pautam a atuação dos profissionais associando-as ao ideário da Reforma Psiquiátrica e da Reforma Sanitária brasileiras; 
    •  Problematizar a forma como determinados arranjos favorecem, ou não, uma atuação na perspectiva psicossocial;

    Estratégia Metodológica

    Pesquisa-Intervenção

    • Análise Institucional Francesa
      • Tensão Instituinte-Instituído
    • Inspiração Cartográfica
      • Acompanhamento de processos - o caso da técnica levada ao grupo
    Procedimentos Metodológicos

    • Trabalho com 75 ACS da ESF do distrito Glória/Cruzeiro/Cristal – Porto Alegre/RS
    • Grupos Focais com os ACS 
    • Entrevistas com diversos atores institucionais envolvidos – Coordenadores Diretos dos ACS
    • Encontros de Formação
    • Análise de implicação
    •  Diário de Campo -Blog

    quarta-feira, 24 de novembro de 2010

    25 de Novembro - Em clima de agradecimentos

    Estou tendo uma semana permeada pela idéia de agradecimento. Comecei a pensar naqueles que usarei na dissertação. Escrevi esse, assim, 

    Pela parceria ético-estético-política e pelo reconhecimento quase imediato, afinal, "num deserto de almas também desertas, uma alma especial reconhece de imediato a outra" (CFA)


    Ao Nietzsche por ajudar a dar palavras, sentidos, afetos e força na ordenação da minha relação com a tragédia nossa de cada dia.

    segunda-feira, 22 de novembro de 2010

    20 de Novembro - trabalho do nietzsche

    Título: excesso de transferência : estética de uma  psicanálise ressentida.

    terça-feira, 16 de novembro de 2010

    Trabalho do Nietzsche Psicólogo

    Falar da ética da psicanálise e da sabedoria trágica.

    Usar o livro seminário sobre a ética de lacan, textos vários, o livro que eu li sobre a tragédia grega, estudar o herói trágico, ecce homo e o apolineo e o dionisíaco.

    quinta-feira, 11 de novembro de 2010

    11 de Novembro - Interlocuções Metodológicas






    Competências dos Agentes Comunitário de Saúde no processo de desinstitucionalização da loucura

    André Luis Leite
    Simone Mainieri Paulon
    Porto Alegre - 2010



    Contexto da pesquisa 

    2008 - Repercussões da Inclusão da Saúde Mental na Atenção Básica: um estudo comparativo em serviços de atenção básica do Rio Grande do Norte e o Rio Grande do Sul.
    Magda Diniz Dimenstein/Rosane Neves
    • Olhares e Ações do Agente Comunitário de Saúde frente á Loucura.
    2010 - Estratégias de cuidado em saúde mental na interface com a atenção básica: o trabalho dos agentes comunitários de saúde nas equipes de saúde da família.
    Rosane Neves

    • Competências dos Agentes Comunitário de Saúde no processo de desinstitucionalização da loucura


    Campo Problemático

    Reforma Sanitária

    • Atenção Primária em Saúde
    • Política Nacional de Humanização
    • Programa de Agentes Comunitários de Saúde
    • Estratégia de Saúde da Família

    Reforma Psiquiátrica
    • Paradigma de Atenção Psicossocial
    • Atenção territorial
    • Cuidado em Rede

    O Agente Comunitário de Saúde
    • Personagem Hibrido e Polifônico
    • Inovação no campo da saúde
    • Habitação de um lugar paradoxal
    • Demanda por qualificação da e para categoria
    Contexto Atual


    2005 -Os cursos técnicos de formação de agentes comunitários de saúde
      • Trabalhar na perspectiva de desenvolvimento de competências;

    O conceito de competência
    capacidade de enfrentar situações e acontecimentos próprios de um campo profissional, com iniciativa e responsabilidade, segundo uma inteligência prática sobre o que está ocorrendo e com capacidade para coordenar-se com outros atores na mobilização de suas capacidades (BRASIL, 2004p. 47).



    Competências: dimensões e atualizações

    Diretrizes Curriculares do Curso dos Agentes Comunitários de Saúde
    Saber-fazer
    Saber-conhecer
    Saber-ser


    Análise do uso dos conceitos
    Saber agir
    Saber mobilizar recursos
    Saber comunicar.
    Saber aprender
    Saber engajar-se e comprometer-se
    Saber assumir responsabilidades
    Ter visão estratégica



    Que competências podem auxiliar a construção de práticas orientadas no sentido preconizado pela desinstitucionalização da loucura a serem efetivada pelos Agentes Comunitários de Saúde?
    • Quais as ações neste sentido já desenvolvidas?
    • O que as favorece?
    • Quais as dificuldades encontradas?
    • Que tipo de suporte necessitam?

    Estratégia Metodológica

    Pesquisa-Intervenção

      • Análise Institucional Francesa
        • Tensão Instituinte-Instituído
      • Inspiração Cartográfica
        • Acompanhamento de processos - o caso da técnica levada ao grupo
      Procedimentos Metodológicos

        • Trabalho com 75 ACS da ESF do distrito Glória/Cruzeiro/Cristal – Porto Alegre/RS
        • Grupos Focais com os ACS 
        • Entrevistas com diversos atores institucionais envolvidos – Coordenadores Diretos dos ACS
        • Encontros de Formação
        • Análise de implicação
        •  Diário de Campo -Blog

        sábado, 6 de novembro de 2010

        07 de Novembro - Possível epígrafe do mestrado

        Acabo de voltar de um evento bem legal no Rio. Preciso, mesmo, escrever mais sobre ele. De todo modo, no contínuo dos pensamentos, emoções, sensações dele, coloco aqui um pedaço que pode vir a ser a epígrafe da dissertação.


        "Some may like a soft brazilian singer
        but i've given up all attempts at perfection" caetano  - o estrangeiro ( há quem diga que está é uma afirmação de bob dilan)

        domingo, 24 de outubro de 2010

        Domingo, 24 de outubro - Permitido

        Durante o  grupo com os agentes comunitários dessa semana, Guga enunciou algo que há muito já estava posto mas para o que eu não tinha atentado tanto ainda. Ele pontua a forma como os agentes se permitem fazer intervenções a meu respeito, de algum modo, estabelece-se uma relação entre eu e eles na qual eles se sentem a vontade para pontuar meus esquecimentos, para falar dos meus erros e para fazer intervenção junto a minha pessoa. Passei a notar isto. Na hora, pensei muito sobre o assunto. Fui pensar que, de algum modo, o meu modo de ser - bem atrapalhado, bem desleixado, bem comum - poderia favorecer algo na nossa relação. Enfim, pensei que pode ser uma estratégia de usar algo que seria uma fraqueza -em uma abordagem mais estruturada, tecnico-centrada, enfim. Pensei, pensei e continuo pensando. A minha avaliação disso é boa. Acredito que isso pode favorecer a nossa relação, isso talvez faça com que a questão dos lugares de saber-poder possa transitar. Enfim, sigo pensando nisso.

        domingo, 10 de outubro de 2010

        Domingo, 10 de outubro - O que sabem os que não sabem?

        Escrevendo o meu capítulo analítico um, permitindo me proposições várias, pensei em possíveis oposições da minha futura banca. No meu devaneio rápido no meio da escrita, imaginei-os a me interrogar sobre pautado em que eu me permitia fazer tantas proposições. Na hora em que pensei isso, quis escrever, pois acho que elaborei uma boa resposta:
        Pautado em um cansaço extremo de uma literatura denuncista e pouco propositiva que, em nome de um rigor científico salvador de Lattes, condena os autores da saúde coletiva a usar 14 páginas para denúncias óbvias e amplamente conhecidas, e, permirtir-se, quando muito,  um tímido parágrafo propositivo pouco antes das considerações finais. Sabe? Não vejo isso nem como ousadia, acredito que seja mais  uma questão de cansaço.

        ps:  hoje pela manhã, tive a ideia do nariz de palhaço. LOs hermanos é uma pedida e tanto para amores antigos e ideias levemente gastas.

        domingo, 12 de setembro de 2010

        12 de Setembro - sobre a vida!

        "Nós éramos amigos e nos tornamos estranhos um para o outro. Mas está bem que seja assim, e não vamos ocultar e obscurecer isto, como se fosse motivo de vergonha. Somos dois navios que possuem, cada qual, seu objetivo e seu caminho; podemos nos cruzar e celebrar juntos uma festa, como já fizemos – e os bons navios ficaram placidamente no mesmo porto e sob o mesmo sol. Parecendo haver chegado ao seu destino e ter tido um só destino. Mas, então, a todo-poderosa força de nossa missão nos afastou novamente, em direção a mares e quadrantes diversos, e talvez nunca mais nos vejamos de novo – ou talvez nos vejamos, sim, mas sem nos reconhecermos: os diferentes mares e sóis nos modificaram! Que tenhamos de nos tornar estranhos um para o outro é da lei acima de nós: justamente por isso deve-se tornar mais sagrado o pensamento de nossa antiga amizade! Existe provavelmente uma enorme curva invisível, uma órbita estelar em que nossas tão diversas trilhas e metas estejam incluídas como pequenos trajetos – elevemo-nos a esse pensamento! Mas nossa vida é muito breve e nossa vista muito fraca, para podermos ser mais que amigos no sentido dessa elevada possibilidade. – E assim crer em nossa amizade estelar, ainda que tenhamos de ser inimigos na Terra".
        (Nietzsche, A Gaia Ciência, aforismo 279)

        domingo, 22 de agosto de 2010

        22 de Agosto - Ação ou Intervenção?

        Isso de escrever acaba me obrigando a pensar. Precisei escrever a metodologia do meu projeto de qualificação. Caí em pilhas de café, chimarrão e doces, além de livros, textos e artigos soltos. Fui ler sobre pesquisa ação, seu intuito conscientizador e tudo mais. Li também sobre pesquisa ação, produção de analisadores, surgimento do novo, dimensão instituinte, e tudo mais. Essa leitura toda reverberou imensamente sobre o trabalho no grupo com os ACSs da semana. Fiquei desnorteado por perceber que eu teria uma tendência a achar que aquelas pessoas precisam saber, precisar estar conscientes dos muitos determinantes que se presentificam em um simples ato de cuidado em saúde. Isso causou em mim um sentimento de estar mais filiado a pesquisa ação. Ao mesmo tempo, tenho a sensação de que por esta via – não necessariamente da conscientização - podemos elevar as situações que ali se processam a categoria de analisador. Contudo, estou cada vez mais convencido de que para por uma instituição em análise é preciso tempo, um tempo que é marcado por diferentes ritmos já que a via que escolhi para questionar a instituição diz respeito ao modo singular como esta atravessa os diversos sujeitos no campo social. No caso da minha pesquisa, interrogar o especialismos, interrogar a supremacia do saber médico, diz respeito a um movimento de produzir interferência na forma com aquelas corpos ali se encontraram com isso. Claro, óbvio e evidente, também diz respeito, necessariamente, a relação que eu tenho com isso. Análise de implicação é, de fato, uma ferramenta de trabalho na pesquisa intervenção.
        Crise á parte, os estudos todos sobre o tema me deram uma clareza legal sobre aquilo que dentro deste referencial caracteriza uma pesquisa como intervenção. Escrevi assim no projeto;

        Trata-se de uma pesquisa, pois é orientada por uma pergunta norteadora para qual se esforça em construir repostas, e, sustenta-se como intervenção, na medida em que se propõe a criar analisadores, ou elevar elementos presentes em um dado contexto a esta categoria de modo que se possa produzir a análise( PAULON, 2005; ROCHA, AGUIAR, 2003).
        A implicação deseja pôr fim às ilusões e imposturas da neutralidade analítica, herdada da psicanálise e, de um modo geral, de um cientificismo ultrapassado, esquecido de que, para o “novo espírito científico”, o observador já está implicado no campo da obervação, de que sua presença modifica o objeto de estudo, transformando-o. (…) [Ela] mostra a necessidade de enlaçar análise e a implicação propondo um passo que consiste no “vai e vem do homem em situação ao objeto, e do objeto ao homem em situação. (LOREAU, 1993, p. 83) – grifos nossos.

        quinta-feira, 5 de agosto de 2010

        05 de Agosto - Spinozano, spinozeando, hanging out com Spinoza

        A obrigação de produzir uma escrita acabou me levando a passar um bom tempo com o caboclo Spinoza. Isso obrigou meu corpo a entrar, necessariamente, em uma relação de composição com seus livros e ideias. No meio disso, descobri que estava lendo a Ética de um modo inadequado. Esse livro, e talvez alguns outros, não são legais de se sentar e ler de ponta a ponta. Não, mesmo. Um livro da intensidade da Ética, precisa ser lido quase como um oráculo: em busca de respostas. Uma pergunta precisou guiar-me entre proposições, escólios, axiomas e afins. Assim, acompanhando-o desenvolver uma ideia, compondo-me com quem já se debruçou sobre ele, a leitura e escrita tornaram-se muito prazerosas. Enfim a Ética me produziu alegria, para ser preciso, produziu amor - em spinoza amor é alegria com conhecimento sobre aquilo que nos causou tal afeto. Nas leituras anteriores, o sentimento era de tristeza, afinal, a minha relação com o livro acontecia de modo que eu me sentisse um estúpido. Isso mudou. Bem melhor agora. De fato, por mais que seja um livro escrito de forma geométrica, racional e lógica, nem de longe ele é só isso. Há intensidades demais naquele livro para reduzí-lo a uma exposição lógica de proposições e conclusões.

        terça-feira, 27 de julho de 2010

        O lugar da experiência na produção de algo

        O semestre passado a discussão teórica do grupo de pesquisa era sobre cartografia e etnografia. O recorte que mais me interessou diz respeito a o diário de campo, usos, funções, conteúdos e outras coisas do gênero.  Dentro do recorte do diário, tenho interesse na questão de como uma vivência da ordem do pessoal, do meu interesse pequeno, pode ser usada para pensar algo a mais. Não quero que o meu diário vire um espaço de catarse egóica. Não, isso acho que não é legal. Em meio a leituras bem improdutivas, achei umas passagens bem interessantes sobre esse assunto.

        Manter a experiência em um nível individual, sem desdobrar suas consequências, é que seria limitar-se, qual Sartre, a um plano do subjetivo constituinte, atenuando virtuais poderes de perturbação. (...) A esse respeito Eribon ( 1996) ressalta as repetidas referências de Foucault a "experiências transformadoras ( p36), envolvendo relações com os outros, inserções na vida cultural, engajamentos políticos, confronto com normas institucionais etc. Rodrigues, 2009, p.22) In Foucault e a Psicologia, Guareschi e Huning.

        Foucault, sempre Foucault. Acho que isso me deu boas ideias, pelo menos do que evitar e também abre um bom caminho para seguir pensando.
        ps: Fazer explodir a verdade, ao tomá-la como prática de transforação da vida, da nossa vida e das outras vidas, é fazer da experiência de si uma obra de arte.

        domingo, 25 de julho de 2010

        Nietzsche é um bom companheiro - aula II

        O sol insiste em não aparecer por estas bandas. Frente a chuvinha chata, volto eu para os estudos


        Fragmentos Póstumos (Parágrafo 40(21)) (Cont.).


        para que a unidade subjetiva, pensada segundo o modelo do corpo, possa existir é necessário que a consciência ignore determinadas perturbações dos demais órgãos que compõem essa mesma unidade complexa. Ou seja, para que a consciência possa manter e fazer funcionar adequadamente a sua função diretiva é preciso uma certa ignorância; com a completa transparência ou com a consciência absolutamente onisciente muito provavelmente não haveria possibilidade de que pudesse exercer adequadamente a sua função.
        Comentário: O que acontece num indivíduo hipocondríaco.
        Professor: É justamente isso. Ou seja, uma certa ignorância de base é condição fundamental do exercício otimizado da função superior da consciência.
        Pergunta: Essa ignorância de base é não ter o controle total, é admitir que tem partes que escapam?
        Comentário: E funciona automaticamente. O hipocondríaco quer ter o controle de tudo. Ele quer dar conta conscientemente de todas as funções dos órgãos ... se uma coisa escapa, ele quer saber porquê, pois ele não confia que o coração funciona automaticamente, que o intestino funciona...
        Professor: Isso mesmo. Nós vamos ver isso de modo preciso em relação a esse texto que eu traduzi para vocês. Mas, percebam que isso daqui é uma coisa assim extraordinariamente diferente da posição iluminista tradicional, que justamente apostava o máximo possível na completa transparência da consciência.



        Então, a ignorância seria constitutiva da consciência?
        Professor: Seria constitutivo da função, de tal maneira que essa exigência de que a consciência pudesse tomar posse absoluta da unidade do sujeito, ou seja, de que a consciência pudesse funcionar como um núcleo absolutamente transparente da subjetividade, está sendo posta aqui em questão.
        Comentário: Eu não sei se eu estou entendendo direito, mas eu fico pensando assim, as implicações políticas disso. São terríveis! Porque isso quer dizer que o povo tem necessidade de um ditador, dos grandes governantes, dos grandes políticos, e que as personalidades psicopáticas tem que existir porque.... tem a necessidade de uma certa ilusão, de sedução...
        Professor: Olha, essa coisa que você está dizendo é tão apaixonante que eu não sei se daria para acompanhar você e dizer: tem de existir isso do ponto de vista do Nietzsche. Eu acho que o que Nietzsche diria antes seria: não que isso tem de existir, mas é compreensível que isso exista.
        Comentário: Faz parte do mundo.
        Professor: Exatamente. Ou seja, faz parte deste jogo aqui. É compreensível que exista e é compreensível que exista com tanta freqüência. E tem mais um outro ponto que ainda é mais terrível que isso, que é o seguinte: é ilusão pensar que você pode acabar com isso facilmente, ou seja, aqui há uma denúncia do otimismo de todas as formas de ilustração, ou seja, desta crença na onipotência da consciência
         




        O eu do corpo não é o eu da gramática, não é o eu que simplesmente é a reprodução da função gramatical do sujeito na proposição. O eu do corpo, antes de ser dito, é realizado justamente nessa forma da unidade complexa e do múltiplo. Então, o corpo não é propriamente um eu que é dito, senão um eu que é produzido, feito.
        O que ele está querendo dizer aqui é que esta unidade do eu que se funda na lógica e na gramática é unidade abstrata, é a unidade que decorre da simples função gramatical; enquanto que a unidade do eu que se realiza no corpo é uma unidade concreta, é uma unidade que se dá a partir de uma multiplicidade que é sempre mutável.



        Aqui um eu é o eu do discurso; este eu que aparentemente é o núcleo da subjetividade, que deveria ser o autor desse processo, deveria ser o eu que pensa, mas que é muito mais espectador do que autor do processo todo. Aqui é uma outra maneira de problematizar a pequena razão e a grande razão, você lembrou muito bem disso, quer dizer, isso que eu chamo de eu não é este eu de que nós estávamos falando aqui, que é o corpo. Este eu que ocupa o núcleo da subjetividade, isto é, o eu da consciência, não é o autor do processo, ele é, no máximo, espectador do processo. Quem é, então, o eu? Quem faz isso. Aí a resposta é: eu não sei. E este eu não pode saber, justamente porque ele não é o autor. 
        Porque eu ignoro as causas corporais do desprazer, do mal-estar, e porque eu não posso prescindir de encontrar uma causa - isso ele está falando da nossa cultura na verdade - então, nós inventamos causas psicológicas e morais e acreditamos piamente nelas. Então, todo mundo tem o direito de encontrar a causa da reto-colite ulcerativa do próximo.
        "Sob tortura, quase todo mundo se confessa culpado; sob a dor, cuja causa física não se sabe, o torturado se questiona a si mesmo tão longa e inquisitorialmente até que ache culpado os outros ou a si mesmo: - como fez, por exemplo, o puritano que, conforme o costume, interpretava moralmente o baço afetado por um insensato modo de vida - isto é, como mordida da própria consciência moral."
          A lógica do ressentimento é esta que acredita no efeito de causas pura e simplesmente marginais, ou seja, precisamente a moralidade rígida é algo que é uma conseqüência das indisposições do corpo.

        sábado, 24 de julho de 2010

        Nietzsche é um bom companheiro - aula I

        Giacoia - Aula sobre o aforismo 354 da Gaia Ciência


        Não é nada simples ler algo que tenta descostruir aquilo sobre o qual se erige os fundamentos da modernidade. Num sábado, já sem muito saco para as coisas, resolvi me aventurar sobre umas aulas do Giacoia sobre Nietzsche. Liguagem, consciência, rebaho e o corpo como fundamento para uma nova forma de se pensar a subjetividade. Topei a parada. Entrei no msn para ver se flávio estava on line para discutir minhas impressões sobre o texto. Nada. Pensei em Isaac. Sábado á noite, há mais o que se fazer. Não aqui com essa chuva chata e com a preguiça de viver que me assola. Diário é lugar de construção e de dúvidas, so, vamos lá.


        Aqui tá o texto : http://www.rubedo.psc.br/artigosb/curniti1.htm 


        Vou recortar pedaços que eu sublinaria e colar aqui.

        A arte é mais verdadeira do que a ciência significa simplesmente que a arte é um saber perspectivo que se sabe perspectivo, enquanto a ciência é um saber igualmente perspectivo, mas que pretende ser mais que isso. Então, neste sentido, a arte é mais verdadeira do que a ciência, por conseguinte, a arte é preferível à ciência.
        Comentário: Por isso que eu acho que a psicoterapia é arte.
        Professor: Então, essa é uma das discussões que se insere nesse oceano de tintas, a propósito da frase nietzschiana. Mas não me parece que isso seja uma afirmação com muito trânsito entre os terapeutas.
        Comentário: Só entre os junguianos, entre os freudianos não.
        Pergunta: A perspectiva do Guattari de fazer as ciências sociais, passarem da perspectiva científica para a perspectiva estética está ancorada nesta discussão?
        Professor: Sem sombra de dúvida. Aliás, não por acaso, Guattari teve tanto tempo junto com o Deleuze, que andou a vida toda junto com Nietzsche.  



        Professor: No caso do Nietzsche, radicalmente, é uma coisa individual. Você percebe Dornelis porque exatamente Nietzsche usa as palavras tão estridentes? Por que em vez dele falar comunidade, ele fala rebanho? Por que em vez dele falar ilusão, ele fala tolice, estupidez?...
        Comentário: Porque é para provocar.
        Professor: Exatamente. É propositadamente estridente; é para tomar todo esse discurso consagrado na modernidade como o discurso legítimo, o discurso, o verdadeiro, o correto, o justo, etc., para tomar precisamente isso como sendo objeto de crítica. E é por isso que as figuras que o Nietzsche constrói, por exemplo, a imagem do forte e do fraco, do senhor e do escravo; quer dizer, são todas elas escolhidas a dedo com o objetivo de caminhar contra a corrente daquilo que são as idéias modernas, para ele; daquilo que é considerado como bom e justo no mundo moderno. Então, por exemplo, a crítica feroz dele à leitura de jornal. De vez em quando você se impressiona, por que ele critica tanto esse negócio de leitura de jornal.
        Comentário: Porque é do rebanho.
        Professor: Porque, para ele, significa formação massiva da consciência e da opinião.
        Pergunta: E o que ele acharia da TV a cabo, da Globo e da globalização?
        Professor: Pois é, mas isso é bem avant à la lettre uma crítica da cultura de massa. O que significa massificação da cultura? Significa, para Nietzsche, a mais extrema negação da cultura. Ou seja, qualquer tipo de globalização da opinião, significa negação do espírito. Por que negação do espírito? Porque é a impossibilidade de você pensar por si, você tem sempre que pensar heteronomamente em função de alguém que determina as coordenadas da sua percepção, do seu gosto, do seu juízo, enfim.





        Ou seja, que a humanidade se congele, se fixe, nesta uniformidade, e que seja incapaz de se elevar para além de si mesmo. É esse o perigo que é pior do que morte.
        Comentário: O modelo da sociedade americana.
        Professor: Isso. Exatamente. Por que esse perigo é pior do que a morte?
        Resposta: Porque ele intimida.
        Professor: Não, é porque esteriliza o futuro. Ou seja, a morte mata simplesmente aquilo que nós somos hoje; esse perigo, ou seja, o perigo envolvido na possibilidade da reprodução infinita do mesmo, mata qualquer futuro.





        Somos desiguais. A idéia de uma identidade de natureza, de uma natureza humana igual para todos, é precisamente isso que está sendo questionado, como uma forma do discurso religioso. A idéia de uma comunidade de natureza, é exatamente uma idéia, para Nietzsche, de fundo religioso, uma idéia fundamentalmente socrático-cristã. A idéia de Nietzsche, não é a idéia de uma superioridade racial ou uma superioridade fundada na diferença política, econômica ou social; na verdade, o que Nietzsche está estabelecendo aqui é uma diferença fundada justamente na singularidade de cada indivíduo.


        Aquilo que Nietzsche chama de amigo é oposto ao que nós, no Ocidente, chamamos de o próximo. Então, há um belo parágrafo do Zaratustra, exatamente sobre o amigo, sobre o amigo, o distante; o distante justamente para fugir da idéia do próximo, no sentido de mostrar o que é que significa ser amigo contrariamente a ser um próximo do seu outro, do seu amigo. Ser amigo significa exatamente deixar o outro ser, por conseguinte, servir de alguma forma de estímulo permanente, para que o outro seja o outro mesmo singularmente, e não uma espécie de reflexo de si. O reflexo de si é a perspectiva do amor ao próximo.


        Aliás, alguém que toma como ponto de partida a fisiologia, ele vai dizer isso, especificamente a fisiologia e o corpo, e no entanto não pode ser chamado de materialista. Por que? Porque materialismo e espiritualismo são correntes opostas da metafísica, de modo que um só faz sentido em relação ao outro. E o que ele vai querer fazer é denunciar simultaneamente a ilusão dos dois opostos. Ou seja, quem se mantém num ou noutro extremo, permanece negativamente ligado ao extremo oposto; por conseguinte, mantém-se a oposição, que é a metafísica.
        Comentário: Mais uma vez ele mostra a sua afiliação ao Espinosa.
        Professor: Sem dúvida. Isso nós vamos ver claramente.





        Aqui está um dos pontos centrais do pensamento de Nietzsche, ou seja, a alma é entendida, no sentido nietzschiano, não como princípio unitário, mas exatamente como multiplicidade, como pluralidade; ou seja, como a idéia de uma unidade que resulta da composição da organização. Ou seja, aquilo que mais ilustra a alma, é o corpo; porque o corpo é precisamente unidade de organização, o corpo é pluralidade de sujeitos. Se vocês pensam na subjetividade de cada órgão ou de cada elemento de cada órgão.


        o novo psicólogo é exatamente aquele que ao inventar uma nova representação, pode talvez encontrar alguma coisa. Ou seja, é aquele para quem talvez não exista mais diferença entre inventar e encontrar. Ou seja, aquele para quem Erfinden e Finden são movimentos que se dão no mesmo nível. Ou seja, é muito possível que ao inventar uma nova hipótese sobre a alma, isso possa servir de meio auxiliar, ou de princípio heurístico para encontrar alguma coisa. E que essa no fundo é a função das teorias científicas. Elas são invenções que talvez tornem possível efetivamente algum encontro.(...)e por que o novo? Porque o velho psicólogo é aquele que continua preso na metafísica do povo, ou seja, nas ilusões da gramática.


        andré - eu penso  ( descartes) x eu sou um corpo ( nietzsche)

        Então, a idéia nietzschiana aqui é a idéia de que a consciência é o governante, de que a consciência é a função psíquica mais elevada, mas precisamente uma função. Ou seja, uma função dirigente, uma função de direção e de traçar diretrizes, planificações e tudo mais, mas não como algo absolutamente autárquico em relação a divisão do trabalho e aos outros elementos da organização; ao contrário, a função diretora da consciência é, precisamente como função, dependente propriamente da hierarquia e da divisão do trabalho. Portanto, é essa unidade de organização fundada na hierarquia e na diferenciação das funções; e mais especificamente é exatamente a possibilidade desta hierarquia que garante o funcionamento destas funções psíquicas consideradas superiores. Repito: a superioridade da consciência e das funções diretoras da consciência não significa uma autarquia em relação as outras funções psíquicas e corporais, mas significa um elemento a mais nesse sistema, de tal forma que essa posição diretora proeminente da consciência é inteiramente dependente da hierarquia das forças, da hierarquia das funções e da divisão do trabalho. 


        algumas horas depois, acabei a primeira aula. COm o tempo, tratarei das demais.  


        ps: os comentários desses alunos são uma coisa, ao lê-los eu me sinto absolutamente tapado.

        quinta-feira, 22 de julho de 2010

        22 de Julho - Assalto

        Hoje, na volta de casa, no meu mais tranquilo caminho de casa, a violência travestida fez seu trotoar na minha vidinha pacata. Assim, chato ver o quanto o medo é efetivo para nos paralisar. O cara, alguém da minha idade e com menos perspectivas, vestia um moleton e dizia estar armado. Se estava ou não, não sei. Não quis, dessa vez, discutir com ele. Fiquei surpreso quando ele me pediu minha jaqueta - gostava dela, sabe? Como assim levar uma jaqueta? Ao voltar pra casa sem ela, me dei conta de que esse era um objeto importante e que sendo assim, era algo passível de ser roubado. Como sair da lamúria pessoal e usar isto como algo maior? Pois é. Voltei pra casa dividido entre a lamúria pessoal de um pequeno burguês sem grana  e o que podia produzir a partir disso.

        Hoje á tarde falava do conceito de risco em saúde e das limitações dele para dar conta de um modo de cuidado onde a produção de vida fosse o objetivo. Penso que posso ir por aí. A princípio, eu não estava em uma situação de risco - sexta feira, andei por aquela mesma rua ás 03:30 da manhã; e mais, hoje eu queria muito andar para casa. Sendo assim, pensei em duas coisas, a primeira diz respeito a uma certa ineficiência da idéia de risco para programar as ações. Como assim? Olha, diante de um quadro de violência generalizada e mui democrática, em algum momento, ela vai acabar cruzando com você. Diante de condições sanitárias tão complicadas, hora ou outra, os indivíduos vão acabar adoecendo. As condições de adoecimento estão postas. Não há muito o que ser feito se não modificarmos estas. Os fatores de proteção são insuficientes para dar conta de tamanha vulnerabilidade.
        A segunda é a dimensão de escolha frente ao risco, dado que há sempres outras necessidades que estão postas para além da de saúde ou, no meu caso,  segurança. Eu queria caminhar, precisava caminhar. O cara que transa sem camisinha, a pessoa que usa droga, o diabético que come açucar, o hipertenso que exagera no sal e se fode na pressão, assim como eu, fizeram uma escolha. Toparam arriscar.
        Acho que para promover autonomia é preciso dar dimensão das consequencias das ações. Informação? Sim. Só isso? Acho que não. É preciso, talvez, deixar que as pessoas sintam em seus corpos os efeitos das escolhas para dar a elas algo mais que uma informação técnica. Acho que isso ajudará a construir uma clínica que não trabalhe com corpos calados, quietos, silênciados frente ao imperativo técnico do risco.

        Deu. Espero que isso tampone e minha vontade de falar disso e que isso me seja útil depois.

        domingo, 11 de julho de 2010

        Sábado 10 de Julho - Simples assim

        Esperar decantar a raiva ajuda a dissipar o ressentimento.

        quarta-feira, 7 de julho de 2010

        07 de julho - Hospital de Clínicas - Porto Alegre

        Minha garganta ainda não aceito o fato de que eu moro em um lugar frio. Ela, tem marcado sua insatisfação de modos bem veementes. Esta semana ela aprontou novamente. O bom das traquinagens dela é que elas me permitem experiênciar o lugar de usuário do SUS.

        Pois é, hoje fui na emergência do clínicas em busca de uma solução rápida para a garganta protestando. Dei sorte e a recepção não estava cheia. Tivemos problemas no cadastro e isso me fez ficar na recepção, por pelo menos 20 minutos. A moça foi gentil e simpática. Ela tinha um boton que fazia menção a algum prêmio de qualidade conseguido pelo hospital. Enfim, o João ficou lá comigo este tempo. Quando me disseram para entrar, disse a ele que poderia ir embora que eu me viraria sozinho.

        A emergência trabalha com acolhimento e classificação de risco. Cheguei lá as 18:00. Fiquei vendo as pessoas. E me dando dimensão de que o trabalho em saúde necessariamente é produtor de afetos. Não há como sair ileso dali. Havia todo um esforço por parte da equipe técnica em chamar as pessoas pelo nome, em mostrar interesse pela histórias e acho isso absolutamente louvável. Acho que é um ganho e que precisaria se alastrar por todo o setor da saúde.

        Quando fui acolhido  - uns bons quarenta minutos depois - descobri o que eu já sabia. Meu caso não era grave, sendo assim, eu poderia esperar. Descobri que a minha consulta estava prevista para as 23:00. Eram 18:30.Perguntei se poderia sair e voltar  mais próximo do horário previsto - descobri que não pois isto descaraterizaria a urgência. Perguntei se poderia desistir.Tomei um analgésico e fui embora. Enqunto saia de lá pensava em quanto é difícil ser solidário quando se tem dor. Claro que eu concordo com a classifiação de risco. Óbvio que o senhor que teve um derrame deveria ser atendido antes da minha crise de garganta. Mesmo assim, lá no fundo do meu egozinho pequeno burguês  e autocentrado, eu quis que alguém me desse uma solução para parar a dor. Saindo do hospital escrevi pra dirceu e pedi uma indicação de remédio. Horas depois, com o analgésico já funcionando e um banho já tomado, veio a resposta. Comprei na farmácia e espero que funcione.

        ps:Minha garganta ainda não aceito o fato de que eu moro em um lugar frio. Ela, tem marcado sua insatisfação de modos bem veementes. (...)É, hoje fui na emergência do Hospital de clínicas em busca de uma solução rápida para a garganta protestando. Dei sorte e a recepção não estava cheia. (...)

        Eles trabalham com acolhimento e classificação de risco. Cheguei lá as 18:00. Fiquei vendo as pessoas. E me dando dimensão de que o trabalho em saúde necessariamente é produtor de afetos. Não há como sair ileso dali. Havia todo um esforço por parte da equipe técnica em chamar as pessoas pelo nome, em mostrar interesse pela histórias e acho isso absolutamente louvável.Não me parece adequado para ninguém continuar tratando a questão apenas no plano da técnica. As emoções fazem parte do trabalho em saúde. Um humano não costuma sair incólume da relação com outro. Vendo estes trabalhadores se esforçarem para serem "mais humanos" penso em que suporte eles precisariam para poder fazer isto com menos pesar. Afinal, frente a todos os problemas do SUS não dá pra chamar de desumano o sujeito que precisa trabalhar em três lugares para conseguir pagar as próprias contas.

        terça-feira, 6 de julho de 2010

        06 de Julho - Questão de Pesquisa

         O Agente comunitário de saúde como força motriz da desinstitucionalização
        André Luis Leite
        Orientadora: Simone Mainieri Paulon
        Julho 2009

        Campo Problemático
        Reformas no Campo da Assistência em  Saúde
                               Reforma Sanitária
                               Reforma Psiquiátrica

        Movimento de Reforma Italiano
                              Conceito de desinstitucionalização

        Loucura

        Institucionalização
        conjunto de aparatos científicos, legislativos, administrativos, de códigos de referência cultural e de relações de poder estruturadas em torno de um objeto preciso: a doença, a qual se sobrepõe no manicômio o objeto periculosidade” (Rotelli, F.; Leonardis O. de; Mauri, D, 2001, p. 90)

        Desinstitucionalização
        Desinstitucionalizar, nesse sentido mais amplo, é desconstruir comportamentos, práticas e relações postos a serviço da disciplinarização dos corpos,da rotulação e da estigmatizaçãodos que se encontram com um transtorno psíquico ou, dito de outra forma, daqueles que são movidos por ‘outras razões’.  
        (OLIVEIRA, AMARANTE, PADILHA 2010, S/N)

        Paradigmas
        conjuntos articulados de valores e interesses que se estratificam, criam dispositivos (leves ou pesados) e podem chegar à polarização. Situação em que fica indisfarçável sua função de peças na estratégia de hegemonia de subconjuntos de interesses e valores sociais específicos


        Modificações Paradigmáticas

        SUS - Promoção á Saúde
        Cuidado Territorial
        Multiprofissional
        Integralidade
        Vínculos

        R.P - Atenção Psicossocial
        Vínculos
        Multiprofissional
        Cuidado Territorial
        Integralidade


        O Agente comunitário de Saúde

        Pertencente a comunidade
        Não especialista
        Nômade
        Capital Social como instrumento de Trabalho
        Difusor de informações no território
        Elo entre o posto e a comunidade

        Que habilidades (teórico-prático-metodológicas) podem auxiliar a efetivação de uma prática clínica desinstitucionalizante  efetivada pelos ACS?  Quais as ações já desenvolvidas? Quais as dificuldades encontradas? Que tipo de suporte necessitam?


        Campo teórico metodológico

        Paradigma Pós Estruturalista
        Analise Institucional Francesa
        Tensão Insituinte x Instituído

        Inspiração Cartográfica
        Acompanhamento de Processos


        Caixa de Ferramentas

        Grupos Focais
        Entrevistas com diversos atores institucionais envolvidos
        Visitas Domiciliares
        Encontros de Formação
        Diário de Campo -Blog

        segunda-feira, 5 de julho de 2010

        05 de Julho - Que a vida não me seja indiferente

        Sobre por que arrumar uma causa como modo de vida

        Eu nã queria que você tivesse morrido - disse Harry as palavras saindo involuntariamente - Nenhum de vocês, sinto muito...
        Ele se dirigiamais a lupin mais do que a qualquer um dos demais, súplice.
        - ...logo depois de ter tido um filho Remo, sinto muito...
          - Eu  também sinto.Lamento que nunca chegarei a conhecê-lo...mas ele saberá por que morri, e espero que entenda. Estive tentando construir um mundo em que ele pudesse viver uma vida mais feliz.

        domingo, 4 de julho de 2010

        03 de Julho – Cabaret – O que pode um corpo?

        Sexta á noite em Porto Alegre significa um dos meus terrores pessoais. Sair ou não sair? Admitir minha composição nerdiana e aceitar o fato de que eu não sou de sair? Ou forçar esta composição até o limite – forçando também a composição de mal vestido e preguiçoso – e sair? Nesta sexta não foi diferente. Pesando prós e contras, fui. De saída, percebi que estava ali, mas, em uma posição diferenciada da dos demais. Ah,em tempo, resolvi que,dessa vez, não ia forçar os meus limites com a ingestão de álcool.
        Bom, o lugar estava apertado ( crowded, definiria melhor), muito apertado. Andar era uma tarefa árdua. Em pouco tempo, pouco mesmo, me dei conta de que o aperto estava adequado á proposta. Aquele lugar estava tomado por corpos de pessoas entre 20 e 30 anos – preferencialmente - buscando, a qualquer preço, um toque ( quem sabe até um toque retal), um abraço, um beijo, algum tipo de contato. Talvez nem tanto. Um contato mínimo ( alguém agarrou minha mão enquanto eu passava, um outro me segurou pelo ombro, etc). Pensei na fragilização das relações,da virtualização e imaterialidade pós modernas, e na insegurança em que isso joga o homem moderno – sempre sedento de prazeres efêmeros e de custo baixo - o consumo de crack apenas aglutina tudo isso á custos baixos e prazeres intensos.
        Na hora fiquei chocado – tanto quanto me chocou pensar nisso em plena muvuca. Mas sim, eram “corpos abertos” a qualquer coisa que lembrasse um encontro (Obrigado, Spinoza. Uns se moviam de um lado para o outro, outros se flechavam com olhares dissimulados e pidões. Olhos de quem tem fome, e não é uma fome qualquer. Minha ideia é de que esses olhos querem mais, eles podem mais. Talvez não tenham se dado conta mas, sexo rápido e mal feito em um box imundo de banheiro, não é o máximo que eles podem extrair de um outro corpo. Há mais. Muito mais.
        Na modernidade, pensei uma hora dessas, o sexo vem primeiro e a intimidade, quem sabe, depois, então, o que mais esses corpos se atreveriam a pedir? O que mais lhes é permitido querer? O fato de estar em uma posição especular a deles – eu ontem não queria pessoas, queria música, cerveja e dançar sozinho. Acabou permitindo que eu entendesse um pouco disso. A música tema do meu momento ontem era “Hoje eu quero sair só” - Lenine.


        Como o tema da festa eram os anos noventa do século vinte, em algum ponto, foi tocada a música que me pareceu esclarecer tudo. Ou, pelo menos, dar as chaves de entendimento para todo aquele movimento que se passava a meu redor



        Hello, Hello, How low? Quão devagar da pra ir em uma geração que por ter tudo de forma imediata? Devagar? Pra quê? The show must go on, never stops the music, walk on. Não dá, não há espaço para lacunas onde caibam pensamentos, dúvidas ou outras necessidades. Na verdade, acredito que eles até apareçam, misturados a um gosto azedo de ressaca na boca nas manhãs seguintes, mas, logo em seguida são tamponados por Luftal, Engove, Chá de boldo com paracetamol, perdendo assim, seu potencial de incomodo. Não é à toa que esta noite nunca acaba. Ela não pode acabar. Meu limite foi ás 7 da manhã. Os outros, não sei. Parece que as noites ali se estedem até as 10 da manhã.

        Estou ciente de que este escrito está repleto de um tom moral. Provavelmente da moral cristã. Contudo, meu ethos foi construído a partir desta orientação, havendo sim, noções dela que ainda estão, e irão estar, presentes em mim. Sendo assim, mais do que julgar os viventes da noite pela sua ação, os interrogo pelos seus ethos. Os interrogo pelo quanto aquele lugar aumenta as suas potencias de ação. O quanto - a noite sendo um estado de exceção - ela não tampona a necessidade de que os meninos com meninos e as meninas com meninas ali inseridos, saiam dali para brigar pelo direito de se beijarem e abraçarem em espaços outros.
        Posso estar errado sobre isso tudo, mas, a cada dia me descubro mais antropólogo em marte, me encontrando com os lugares e mais os observando de fora – durante esta noite depois de um tempo, fiquei de costas para as pessoas e de frente para o lugar de onde emanava o som. Isso precisa de discussão. Reativarei agora Haroldo Gabriel.

        PS: Fui taxado de preconceituoso em relação a um beijo gay. Isso foi hilário. Eu estava morto de cansaço. Muito cansado mesmo. Bocejava, então com uma certa frequência. Um ser humano a meu lado me perguntou se eu estava incomodado pelo beijo deles. Eu disse que absolutamente não e segui rindo. Coisas de Porto Alegre.